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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Aprender a ser Criança




Aprender a ser Criança

Hoje está tão claro, dia desses vi no lugar dessas nuvens azuis umas bem negras ameaçando chuva, admito que o céu estava bonito, tinha um ar “família Adams”.

Hoje não, uma coisa amarela brilha lá no céu, de tão luxuosa faz doer nos olhos quem ousa levantar a cabeça para vê-la.

Eu, assombrada com tudo, resolvi perguntar a alguém que transitava rápido pela rua:

“Senhor, por que aquela coisa brilha tão forte lá no céu?”

O homem alto (mais alto do que vocês imaginam) respondeu:

“Oh mocinha, não tenho tempo para entrar em conversas de crianças.”

E assim partiu com a mesma velocidade que tinha quando o abordei.

Confesso que fiquei chocada com a resposta dele.

Eu não sou uma criança... NÃO SOU.

Assim, fui andando até encontrar um banquinho vazio na praça, quando encontrei sentei-me e ao meu lado vi que tinha um cartão branco, abandonado, pouco amassado escrito:

"Venha ver as belezas naturais da terra do amor" e impresso nele estava àquela coisa orgulhosa lá no céu...

Nesse momento saltei de alegria, descobri o porquê que as pessoas não reparam nas flores, na coisa amarela, nas nuvens, em nada da natureza e vivem correndo como se estivessem brincando de esconde-esconde, sempre a serviço do tempo.

Lógico, essas coisas são perigosas!

É por isso que quando eu olho para cima meus olhos doem de tão forte que é aquele brilho!


Eu estava realmente feliz e saltitando para casa da minha mãe quando eu de repente parei de susto.

Eu vi uma coisa esquisita, numa esquina onde eu costumo comprar balas, vi um menino sentado no chão com uma camisa azul e um calção jeans desbotado, estava apoiando suas mãos um pouco atrás de si e olhando direto para o céu claro.

Será que ele é louco?

Não vê que é perigoso, ninguém faz isso, pois é perigoso!

Eu estava decidida a ir até lá e mostrar o cartão que eu carreguei comigo.

E fui com passos firmes, cheguei lá num instante e disse estendendo o cartão na cara dele:

"Viu só?

Essas coisas, flores, o céu, as nuvens, são feitas para agente olhar só em cartazes, só em folhetos, seu burro!"

Quando terminei de dizer isso foi que ele abaixou a cabeça e olhou para mim.

Pegou o cartão da minha mão, deu uma pausa e voltou a olhar para cima sem dar uma palavra ou soltar qualquer som!

Não entendi muito, mas fiquei brava, e se fiquei.

Eu só queria cuidar da saúde daquele moleque e falei: Olha aqui, você é muito teimoso, até parece que...


Sem me deixar terminar ele olhou para mim de novo e me puxou para sentar ao seu lado.

Toda desajeitada ao lado dele, ouvi o primeiro som baixinho e calmo dizendo:

"Olhe."

Eu disse: “Não. É perigoso!”

“Olhe!”

Levantei minha cabeça lentamente com a firmeza que ele falou.

“Ta vendo aquelas nuvens?”

“To”

"O que você vê nelas?"

"Nuvens, só isso.

São como uma esponja guardando a água para chover."


Ele riu longamente e alto até me deixar com raiva e parou de súbito.

"Qual é a graça?", perguntei.

"Você"

"Eu?"

"É. Sabe como eu vejo você?"

"Não me interessa"

"Eu vejo você como os adultos que sempre estão insatisfeitos com tudo, vivem correndo, querendo saber de tudo não para si, mas para mostrar para os outros adultos o quanto eles são competentes e inteligentes.

Mas não sabem que a verdadeira sabedoria está na arte de olhar as coisas de perto, descobrir a essência de cada um para assim moldar a sua."

"Com quem você aprendeu isso?"

"Com ninguém, se eu fosse querer aprender com as pessoas o que eu quero saber, terminaria dizendo que é perigoso olhar para o céu.

Por isso eu quero continuar criança, mesmo quando eu crescer e ficar bem alto."

Depois dessa conversa fiquei sentada a tarde inteira com Fabio olhando para as nuvens de esponja, tentando descobrir as formas escondidas por trás delas, tentando nos descobrir a partir delas.


Nota do autor: é tão árduo ver que hoje em dia quem é diferente, quem foge das regras e tenta descobrir e questionar o que ninguém questiona é taxado de burro, hipócrita ou rebelde.
Acho que burro, hipócrita e rebelde é aquele que fica sempre na superfície, boiando como pneu na água.

Sejamos sempre crianças como o Fabio, para que não nos tornemos pessoas duras e monótonas sempre a serviço do tempo, sempre a serviço de outro alguém, cultivemos nossa personalidade e sejamos sempre ousados.

Pollyana Bastos

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