Pesquisa

domingo, 17 de abril de 2011

NORMOSE OU ANOMALIAS DA NORMALIDADE - DEFINIÇÃO DA NORMOSE




NORMOSE OU ANOMALIAS DA NORMALIDADE

DEFINIÇÃO DA NORMOSE

Do livro: A arte de Viver em Paz
De Pierre Weil

Há na maioria dos nossos contemporâneos uma crença bastante enraizada.
Segundo esta, tudo o que a maioria das pessoas pensa, sente, acredita ou
faz, deve ser considerado como normal e por conseguinte servir de guia para
o comportamento de todo mundo e mesmo de roteiro para a educação.

Certos fatos e descobertas recentes sobre origens do sofrimento e de doenças
e sobretudo sobre as guerras, a violência e a destruição ecológica estão a
contestar e questionar seriamente a normalidade de certas "normas" ditadas
pela sociedade através dos consensos existentes.

Está se descobrindo que muitas normas sociais atuais ou passadas, levam ou
levaram ao sofrimento moral ou físico ou mesmo de indivíduos, de grupos, de
coletividades inteiras ou mesmo de espécies vivas.

Vamos apenas dar um exemplo entre centenas ou milhares: o do consumo de
cigarros. Ainda há alguns tempos atrás era considerado normal as pessoas
fumarem. Muito mais, era considerado ofensivo e mal educado pedir a alguém
para deixar de fumar na sua presença. A medida que se reforçava a certeza de
que o ato de fumar era lesivo à saúde podendo criar enfizema e câncer
pulmonar com conseqüências eventualmente letais, o fato de fumar em si
começou a ser questionado sem contar o ato de fumar em público. O resultado
foi que esta norma caiu por terra, sendo reforçado em certos países pela
sanção legislativa.

Resolvemos adotar o termo de "Normose", para designar esta forma de
comportamento visto como normal mas que na realidade é anormal. O termo foi
forjado na França por Jea Yves Leloup com o qual estamos trabalhando visando
estudar o assunto mais a fundo e publicar os resultados das nossas reflexões
e investigações. A presente série de artigos constitui um primeiro resumo de
artigos já publicados e do estado atual das nossas reflexões. Vamos
emprimeiro lugar definir de maneira precisa e clara o termo de
Normose. Assim, além da Psicose e da Neurose o vocabulário psicopatológico
foi enriquecido com a palavra normose.

*
1. O QUE É UMA "NORMOSE"?*

Consideramos como Normose o conjunto de normas, conceitos, valores,
estereótipos, hábitos de pensar ou de agir aprovados por um consenso ou pela
maioria de uma determinada população e que levam à sofrimentos, doenças ou
mortes, em outras palavras, que são patogênicas ou letais, e são executados
sem que os seus atores tenham consciência desta natureza patológica, isto é,
são de natureza inconsciente.

Assim sendo para considerar um comportamento como normático, este tem que
ser:
Inconsciente quanto à sua natureza patogênica.
Haver um consenso em torno da sua normalidade.
Ser patogênico ou letal.

Chegou agora o momento de descrevermos as diferentes e inúmeras espécies de
normoses que encontramos nas nossas investigações. E o que será objeto da
próxima parte de explanação.

*2. CLASSIFICAÇÃO E DESCRIÇÃO DAS NORMOSES*

O número de normoses é muito grande. Cada dia que passa descobrimos uma ou
várias delas em áreas as mais inesperadas. Uma vez que assimilamos o
conceito e só seu alcance se torna impossível de não ver. Muito mais; tudo
se passa como se antes desta descoberta a gente tivesse sido cego. O próprio
conceito se comporta como um poderoso revelador facilitando a tomada de
consciência de aspectos essenciais à preservação da nossa saúde e à nossa
existência.

Podemos distinguir duas grandes categorias de normoses: as normoses gerais e
as normoses específicas.
As normoses gerais são as que possuem um consenso comum a praticamente toda
a humanidade. E o caso por exemplo da aceitação do cigarro ou da fantasia da
separatividade da qual iremos tratar daqui a pouco.
As normoses específicas tem o seu consenso restrito a determinada nação,
população, grupo social ou cultural. Podemos dar como exemplo a prática do
duelo entre os homens de classe nobre da Europa até o início deste século ou
ainda o uso de assentos que deformam aos poucos a coluna vertebral dos
passageiros da classe de motoristas.

Inúmeras outras categoria podem ser criadas em função de diversos
parâmetros. Assim sendo, dentro da categoria das normoses específicas podem
ser criadas inúmeras outras categorias ou subgrupos, segundo por exemplo o
tipo de patologia ou de morte a que leva a normose ou ainda ao consumo de
determinados produtos ou alimentos. Podemos assim falar de
normosescancerígenas, quer dizer, as que levam à patologia cancerosa.
Usamos também
a categoria de "normose de consumo" que inclui os inúmeros objetos e
serviços prestados e que se revelam patogênicos ou letais. O objetivo do
presente trabalho, sendo apenas para sensibilizar o leitor à existência da
normose vamos nos limitar em dar alguns exemplos de cada uma das duas
grandes categorias que acabamos de definir.

*3. NORMOSES GERAIS*

Vamos começar dando um exemplo de normose geral. A considerarmos como sendo
a mais perversa de todas as normoses. Antes de conhecer o conceito de
normose escrevemos um livro inteiro sobre ela sob o título: A neurose do
Paraíso Perdido. Esta Neurose começa com uma verdadeira Normose, a qual
intitulamos de "Fantasia da Separatividade". Trata-se de uma ilusão, de uma
miragem, que consiste em nos perceber como separados do mundo exterior, como
se não tivéssemos nenhuma relação com este. As conseqüências desta ilusão são
o desenvolvimento de emoções destrutivas tais como o apego a tudo que nos dá
prazer neste mundo exterior e a rejeição e raiva contra tudo que nos ameaça
de dor e sofrimento. São estas as maiores causas de tensão e stress o qual
leva à doenças, a sofrimentos os quais reforçam ainda mais a fantasia da
separatividade. As pessoas entram assim num círculo vicioso em que repetem
compulsivamente o mesmo comportamento.

Outro exemplo de normose geral que atinge toda a humanidade é a de
considerar como normal o uso das guerras para resolver conflitos e
desavenças entre nações. Existe até um conceito jurídico de "guerra justa"
que sanciona esta normose bellígena.

Esta última normose é ainda reforçada por outra normose que faz com que os
povos acreditem piamente serem proprietárias da terra que ocupam, levando
demasiadamente a sério as fronteiras e os limites territoriais. Esquecem que
todas as fronteiras que nascem os conflitos violentos, que seja fronteiras
territoriais, ideológicas, epistemológicas, políticas ou religiosas.

O próprio sentimento de propriedade é também produto de uma normose geral.
Podemos em última instância considerar-mos como proprietários de objetos que
todos são constituídos de materiais provindo da terra? Somos proprietários
da Terra?

Uma das causas essenciais da destruição ecológica é a normose de posse da
Terra. Até muito recentemente a humanidade inteira se conduzia como se fosse
proprietária da Terra, achando que podia explorá-la indefinidamente. Aliás a
crença de que os recursos naturais são inesgotáveis também é uma
normosegeral em plena regressão.

Mais uma causa fundamental de destruição da vida no nosso Planeta é a
Normose Consumista já conhecida sob o termo de Consumismo. É ela que deu
ensejo ao aparecimento do novo conceito econômico de Desenvolvimento
Sustentável ou melhor ainda Viável. A Normose consumista transforma a
população do mundo num verdadeiro formigueiro destrutivo da vida no Planeta.

*4. NORMOSES ESPECÍFICAS.*

No domínio da alimentação encontramos inúmeros tipos de normoses, as quais
podemos agrupar sob o termo de "Normoses Alimentares". um exemplo clássico e
histórico encontramos na China quando da introdução pelos ingleses das
indústrias de refinação do arroz. Começou a aparecer o Beribéri que não se
manifestava entre os consumidores de arroz integral.

Nesta categoria podemos colocar todos os alimentos industrializados
cancerígenos tais como os corantes alimentares e as conservas enlatadas. O
consumo de açúcar refinado é uma das causas de cáries dentárias nas crianças
que comem muitas balas. Uma normose específica refere-se a certos países
produtores de café os quais produzem uma dependência e este produto gerando
cardiopatias e excitação nervosa. Aliás nesta categoria alimentar podemos
colocar todos os alimentos que praticamente todo mundo consome mas que são
patogênicos. Vamos seguir alguns a título de exemplo:

Batata frita (Colesterol), Doces (Diabetes), Excesso de Sal (Hipertensão),
Refrigerantes (Obesidade). Ainda dentro da categoria de
normosesalimentares, convêm lembrar o consumo de álcool sob todas as
suas formas de
vinho, cerveja, licor, whisky, cachaça etc.... Esta normose é reforçada por
inúmeros rituais: Antes da refeição tem o aperitivo, durante tem vinhos
variados associados especificamente com certos tipos de pratos, depois tem o
licor com café, sem contar celebrações diversas regadas com Champanhe ou
fartura de cerveja. Ao longo do tempo se instalam o alcoolismo com as suas
nefastas conseqüências íntimas, familiares e sociais, sem contar a cirrose
hepática, o "delírium tremens" e a morte, para os que não conseguiram se
moderar.

Hiper consumo de carnes, mereceria uma referência especial já que um
relatório das Nações Unidas recomenda a alimentação vegetariana já que só
uma diminuição de dez por cento do consumo de carne, só nos USA, permitiria
com a economia realizada, alimentar em grãos toda a população faminta do
Planeta. Outra Normose provindo do consumo é a do uso de carros. Embora se
saiba que a poluição provocada pelo consumo de gasolina ameace a vida dos
cidadãos duas vezes: através da impureza do ar e da radiação provocada pelos
buracos da câmara de ozônio, a produção aumenta.

As normoses ligadas ao consumo são reforçadas pela pressão das mídias
através da publicidade e da propaganda. No caso do cidadão comum há uma
crença baseada em princípios democráticos de que caberia um carro para cada
cidadão do mundo, o que nas condições atuais seria um verdadeiro suicídio
coletivo.

Existem muitos outros tipos de normoses específicas que merecem estudos
especiais. Por exemplo no domínio da ciência há uma normose materialista e
mecanicista que dita comportamentos e decisões perigosas para a vida no
Planeta devido a sua ligação com paradigmas ultrapassados. O mesmo acontece
no campo da Medicina dominada por uma visão própria da normose da Ciência em
geral. Existe uma normose comum à maioria das religiões que consiste em
acreditar na sua própria superioridade sobre as demais o que leva a
conflitos e mesmo a guerra. Outra normose religiosa que sustenta os
fanatismos é a que consiste em se ater ao pé da letra dos textos sagrados
esquecendo o espírito e a época em que forma redigidos assim como os seus
aspectos de mensagens simbólicas. A descrença cientista atual em relação à
existência de dimensões parapsicológicas e Transpessoal da realidade pode
também ser considerado como normose levando a um credo cientista ocidental.

No domínio das relações amorosas, existe uma normose bastante destruidora do
amor verdadeiro; é a normose sexual que leva milhões de seres humanos a
confundir amor com sensualidade, limitando as suas relações com o outro sexo
aos seus aspectos puramente genitais.

Vamos citar ainda como último exemplo uma normose educacional que podemos
chamar de normose racionalista que decorre de uma deformação da Ciência no
sentido do antigo paradigma racionalista newtoniano-cartesiano o qual só
aceita a lógica racional e os cinco sentidos como meios de conhecer a
verdade. A Educação copiou este modelo reprimindo os seus aspectos intuitivo
e sentimental.

Poderíamos multiplicar os exemplos. Mas o espaço que resolvemos consagrar ao
presente artigo o impede. na próxima e última parte deste trabalho vamos
examinar como se procede a dissolução de uma normose estabelecendo
proposições para uma Normoterapia.

*5. PROPOSIÇÕES PARA UMA NORMOTERAPIA*

Vamos retornar o exemplo de uma normose em franco declínio, pois isto nos
permite observar como está se efetuando a normoterapia, quer dizer a
dissolução da normose. Vamos retornar o exemplo da normose do fumo.

Esta normose na sua origem era específica de tribos indígenas. Se tornou uma
normose geral com a conquista das Américas pelos brancos.

Numa primeira fase da normoterapia, começou a divulgação dos efeitos
patogênicos e mesmo mortais do uso do cigarro. As mídias contribuíram muito,
de maneira espontânea na divulgação das descobertas médicas. Estamos aqui na
fase social do processo. O público e a própria imprensa começou a fazer
pressão para tomar medidas legislativas. O público e a própria imprensa
começou a fazer pressão para tomar medidas legislativas. O Congresso
Nacional votou uma lei obrigando toda divulgação de cigarro a ser
acompanhada da expressão "O ministério da Saúde adverte: O cigarro faz mal a
saúde". Mas as medidas em níveis sociais não formam suficientes, apesar dos
inúmeros debates pela TV reforçados por conferências médicas. Esta primeira
fase de Socioterapia teve que ser reforçada por medidas no plano individual.

Com efeito no plano individual a normose se manifesta por uma neurose de
dependência ao cigarro. A Socioterapia foi indispensável acrescentar a
psicoterapia nas suas modalidades diversas, individuais e de grupo.
Verificou-se que o próprio uso do cigarro era um modo de aliviar tensões de
ordem neurótica sem contar a sua gênese que se encontra muitas vezes numa
identificação com a figura masculina no caso dos meninos e numa afirmação
masculina na concorrência do movimento feminista.

Isto nos coloca em contato com a relação da normose com a neurose. Tudo
indica que a normose se instala na formação do superego e por identificação
à ou às figuras parentais portadoras dos componentes normóticos.

A experiência do cigarro nos mostra por conseguinte que a fase
socioterápicano plano social precisa ser reforçada no plano individual
por medidas
psicoterapeuticas. E quando fala em terapia, torna implícitos os aspectos
educacionais. Isto é bastante evidente na normoterapia ecológica em franco
andamento. A normoterapia tem que entrar nas escolas, nas mídias e nos
departamentos de recurso humanos (outra palavra de origem normótica...).

Assim sendo a normoterapia se faz em dois níveis distintos porém correlatos.

Primeiro, no nível social podem e ou devem ser acionadas as seguintes
medidas:

- Pesquisa dos efeitos patogênicos e letais
- Divulgação dos resultados em público pelos órgãos científicos e pelas
mídias entre outros.
- Ação das associações de consumidores, sindicatos e entidades de
classes, fundações e outros órgãos da sociedade civil.
- Pressão destes órgãos sobre o Legislativo visando elaboração e votação
de leis adequadas e sobre as autoridades policiais se for julgado
conveniente.
- Divulgação das leis por todos os meios, visando a sua devida aplicação.

- Sociodramas, dinâmica de grupo e laboratórios de sensibilização em
todos os grupos ou coletividade onde for julgado conveniente inclusive
desenvolvimento organizacional holístico.

Segundo, no nível individual temos que pensar em termos educacionais e
terapêuticos:

- Programas específicos de educação nas escolas, pelas mídias e empresas.

- Psicoterapia individual e de grupo. Aqui são incluídas conforme o caso,
as centenas de modalidades existentes. Convêm os psicoterapeutas terem
formação ou informação sobre o assunto para ficarem atentos quando aparecem
sinais de normose.
- Programas educacionais para os pais e as famílias.

Com estas medidas de Normoterapia, estaremos contribuindo para uma mudança
cultural indispensável no plano mundial. Temos um exemplo desta
possibilidade na UNESCO cujo Diretor Geral, Frederico Maior, desencadeou um
movimento mundial de transformação da Cultura de Violência em que está
mergulhado o mundo, em Cultura de Paz. Por detrás desta sugestão se encontra
uma verdadeira normoterapia em escala planetária.

*Pierre Weil*



Maria Elisete Shalom...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.